Um cesto de assuntos está sobre a mesa ao alcance do cronista e dos leitores. Pandemia, crise econômica, desemprego, os chiliques tragicômicos do presidente Bolsonaro diante de perguntas de repórteres, esses e outros temas oferecem matéria-prima para boas análises políticas, econômicas e sociais. Mas, hoje, deixo o roteiro que inspira a maioria dos cronistas, e falo de algo que me despertou muita atenção ao ler o livro "A Euforia Perpétua - Ensaio sobre o dever da felicidade", obra do filósofo Pascal Bruckner, traduzida do francês por Rejane Janowitzer (Difel, 2ª edição, Rio de Janeiro, 2002).
Aparentemente, a intenção da obra é auto-ajuda, mas não é o caso. Trata-se de um valioso ensaio em que o filósofo analisa as várias modalidades de busca da felicidade que existem no Ocidente, desde a promessa cristã de que seus fiéis recuperarão, em outra vida, seu paraíso perdido, até o sonho iluminista de que a razão trará a redenção para a humanidade como um todo. O livro aborda o aparecimento da burguesia, as inalcançáveis utopias dos idealistas, a expectativa de que as ciências afastarão do homem todo tipo de sofrimento. Bruckner lembra que nada é mais vago do que a ideia de felicidade.
Recorda que Santo Agostinho, na sua época, já contava com 289 opiniões sobre o tema. No século 18, cerca de 50 tratados já tentavam explicar a felicidade. Como se vê, o assunto é amplo e complexo. É possível falar de felicidade sem discutir dor e sofrimento? Bentham, o pai inglês do utilitarismo, Adam Smith, Locke e outros autores já trataram do que hoje, como leigos, nos perguntamos: é possível ser feliz na vida terrestre? Qual o papel do pensamento positivo na construção da felicidade?
Cristãos, budistas, protestantes, todas as religiões têm a felicidade como foco de atenção, assim como cada ser humano. "Há os que vivem e há os que duram" lembra Bruckner. Henry James também afirmou que o pior que pode nos acontecer é ter passado ao lado da felicidade sem reconhecê-la. Todos nós,mesmo leigos no assunto, nos enchemos de perguntas sobre as relações da felicidade com a dor e o sofrimento, com os conflitos, com a injustiça.
Falar sobre a felicidade vale a pena? Creio que sim! Afinal, a vida é feita de escolhas que nos cabe fazer em cada momento. Ser ou não ser feliz depende muito também das nossas escolhas. Não há como fugir à origem, à história, aos nossos sonhos.